Como os Debates Políticos Seriam Diferentes com Comunicação Não Violenta?

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Escrito por Gabriela Nunes

Se tem uma coisa que os debates políticos no Brasil nos ensinam é como não se comunicar. Toda vez que assisto, fico me perguntando: e se os candidatos usassem Comunicação Não Violenta (CNV)? Como seria esse cenário? Um debate com empatia e assertividade poderia, sem dúvida, transformar o clima acalorado e, muitas vezes, agressivo dos palcos eleitorais.

 

Recentemente, a maioria dos paulistanos assistiram uma cena emblemática: durante uma entrevista, Datena perdeu a paciência e arremessou uma cadeira em direção ao comentarista Pablo. Sim, ao vivo! A "cadeirada" virou meme, mas, por trás do humor, revela como o diálogo rapidamente se deteriora quando falta conexão e respeito.

 

E é nesse ponto que minha preocupação aumenta. Não só por quem está no centro do conflito, mas pelas pessoas que apoiam esse tipo de comportamento agressivo em certos candidatos. Fico me perguntando: será que, se essa agressividade fosse voltada a elas, elas também apoiariam? Há uma linha tênue entre admirar a “força” e cair na armadilha de normalizar a violência como uma ferramenta de comunicação.

O que é Comunicação Não Violenta?

Para quem não conhece, a CNV é uma abordagem que busca criar empatia e respeito entre os envolvidos. Desenvolvida por Marshall Rosenberg, ela foca em expressar sentimentos e necessidades de maneira clara, ao mesmo tempo em que se escuta o outro com o objetivo de entender, e não de refutar.

 

Aplicada a um debate político, a CNV criaria um espaço onde os candidatos se conectariam com os problemas da sociedade e com seus oponentes de forma construtiva. O que hoje é um show de acusações e ofensas pessoais poderia se transformar em uma plataforma de troca de ideias e soluções reais. E convenhamos, isso seria revolucionário.

Como a CNV poderia mudar os debates?

Ao invés de frases como: “Você está completamente errado, sua proposta é absurda!”, poderíamos ouvir algo como: “Quando ouço sua proposta, sinto preocupação pela sua viabilidade. Poderia explicar melhor como pretende implementá-la?” Percebe a diferença? O foco sai do ataque pessoal e vai para a curiosidade genuína.

 

Outro ponto crucial é o ato de escutar. Nos debates atuais, o que mais vemos são interrupções, onde ninguém realmente ouve o outro. Com a CNV, a escuta ativa seria central. Isso permitiria que os candidatos compreendessem melhor as propostas dos oponentes e, principalmente, que o público também absorvesse os pontos de vista sem ser bombardeado por gritos e ofensas.

Uma nova forma de fazer política

Imagine o impacto disso não só nos debates, mas em toda a comunicação política. Políticos que se conectam emocionalmente com os cidadãos, ouvindo suas angústias e formulando propostas a partir dessa escuta, teriam um efeito muito mais profundo. O diálogo substituiria o embate, e o respeito tomaria o lugar do ataque.

 

Se Datena, antes de arremessar a cadeira, tivesse dado um passo atrás para refletir sobre seus sentimentos, talvez tivéssemos testemunhado uma conversa mais produtiva. E, da mesma forma, se os candidatos incorporassem a CNV em seus discursos e ações, poderíamos ver debates onde a empatia e a clareza prevalecem sobre a agressão.

 

Não é uma solução mágica para todos os problemas políticos, mas é certamente um caminho para uma comunicação mais eficaz, respeitosa e humana. No fim das contas, se os debates fossem diálogos genuínos, quem sabe teríamos menos cadeiradas e mais soluções — para todos.

Sobre Gabriela Nunes

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A Gabi Nunes é fundadora da de.Humanos. É graduada em Administração, especialista em Neurociência aplicada à Psicologia, e em Gestão de Negócios, possui mais de 15 anos de experiência na área de comercial, treinamentos e palestras atuando em multinacionais de diversos segmentos. Atua como professora na Fundação Getúlio Vargas - FGV, lecionando as matérias de Neurociência e Gestão de Carreiras, Neuroliderança, Theater for Business e Comunicação, Neurolinguística e Storytelling. É mãe de dois gatinhos lindos, Charlie e Giorgio. É apaixonada pela lua e pelas coisas simples da vida.